Conheça um pouco sobre a trajetória do Capitão Lessa e a atuação dos operadores do PARA-SAR.
No dia 23 de outubro comemoramos o Dia da Força Aérea Brasileira (FAB). A data rende homenagem aos homens e mulheres dessa honrosa instituição, e remonta ao dia em que Santos Dumont alçou voo com o 14-Bis, provando a capacidade de dirigibilidade de um aeroplano, e abrindo as portas para o surgimento de um novo meio de transporte.
Criada no contexto da Segunda Guerra Mundial, a FAB tem um longo histórico de patrulhamento do espaço aéreo brasileiro, defesa dos interesses da nação e uma atuação muito presente no apoio à população, especialmente em meio a catástrofes.
Para conhecermos a realidade de um operador especial da Força Aérea, conversamos com o Capitão Médico Felipe Lessa, vulgo PASTOR 173, e ele nos contou um pouco sobre a sua trajetória, especializações e compartilhou alguns relatos de operações que mais marcaram a sua vida.
Então, guerreiro, afivele o sinto e senta a púa!
INVICTUS: COMO COMEÇOU A SUA HISTÓRIA NA AERONÁUTICA?
Capitão Lessa: A minha família é oriunda de militares. Meu pai foi militar do Exército, meus tios e meu avô também foram militares. Eu sempre admirei a área militar, sempre gostei muito desse tipo de atividade operacional.
Desde o início da faculdade de medicina eu sabia que poderia ser oficial médico depois que me formasse, e assim que isso aconteceu me voluntariei ao serviço militar com a intenção de servir ao Exército e integrar a unidade de forças especiais.
Mas quando me alistei, por já estar fazendo especialização, acabei sendo puxado para a Força Aérea. No primeiro momento fiquei um pouco contrariado, mas logo fui informado pelo meu pai sobre a existência da Força Especial da Aeronáutica, o PARA-SAR, o Esquadrão Aeroterrestre de Salvamento.
Fiz o curso de Oficiais Médicos Temporários, durante o período obrigatório de 1 ano, e comecei a me informar sobre como ingressar no PARA-SAR. No início tive um pouco de dificuldade por ser temporário, até que um dia participei de uma operação de treinamento de resgate em Recife onde o efetivo do PARA-SAR estava presente.
Foi quando me voluntariei para entrar na unidade e, graças a Deus, consegui ser excedido com a permissão do meu comandante. Assim começou minha história nas forças especiais, onde estou até hoje e, se Deus quiser, em 2023 completarei 20 anos de serviço.
INVICTUS: Você também é conhecido como PASTOR 173. O que isso significa?
Capitão Lessa: PASTOR é o título dado ao militar que conseguiu concluir a formação em todo o programa operacional do PARA-SAR. Esse conjunto de 7 cursos tem duração de 3 anos se forem feitos um atrás do outro, cada curso tem períodos de conclusão variáveis.
Tanto para entrar no PARA-SAR, quanto para concluir a formação, você precisa passar com um Conselho de Operação e Instrução (COI). Todos os PASTORES têm que aceitar sua formação, se um único PASTOR não aceitar, você está fora.
Depois desse conselho, começa um período de teste para que o seu desempenho operacional seja avaliado. Isso pode durar 1 ou 2 anos, e se você tiver um bom resultado ao final da sua avaliação, você é certificado como PASTOR, recebe um número e tem seu nome e imagem pendurados na galeria dos PASTORES.
O nome PASTOR faz alusão ao cão pastor, devido à sua natureza fiel, leal, amigável, vigilante, porém agressiva quando necessário para salvaguardar àqueles que dependem da sua proteção.
INVICTUS: Quais especializações dentro da área médica você concluiu para auxiliar no seu trabalho operacional?
Capitão Lessa: A minha unidade é referência hoje na América do Sul, nas atividades de busca e resgate e operações especiais. Dentro desse tipo de atividade a necessidade de especialistas em Atendimento Pré-Hospitalar (APH) de Combate é muito grande, principalmente nas atividades de busca e regate em combate.
Ao longo dos anos fui me capacitando, ganhando experiência e atuando na área de Medicina e Terapia Intensiva e Emergências Médicas. Isso corrobora bastante com o meu desenvolvimento dentro do APH.
Mas foi em 2018 que decidi me aprofundar no tema e me candidatei para uma Pós-graduação em APH de Combate, que foi realizada na escola superior de Polícia Civil do Paraná, que contou com a participação do Grupo T.I.G.R.E e foi coordenada pelo Doutor Sérgio Maniglia.
Venho sempre me atualizando e conectando os conhecimentos que adquiro com as outras áreas da Medicina com as quais trabalho, e graças a Deus, hoje tenho a oportunidade e capacitação para atuar na disseminação desse conteúdo de suma importância no Brasil.
O quão importante é a presença de um operador com essas especialidades dentro de uma unidade de Operações Especiais?
Capitão Lessa: Atualmente o operador precisa dominar uma tríade para ter sucesso em qualquer missão: precisa ser um bom atirador, precisa ser proficiente em combate corpo-a-corpo e precisa saber prestar atendimento pré-hospitalar em combate. Qualquer item dessa tríade que seja negligenciado pode comprometer completamente o resultado de uma operação.
Para a tropa é muito importante, tanto operacionalmente, quanto para a moral da equipe, que um membro do seu núcleo operativo tenha não apenas um conhecimento sobre as técnicas, mas uma formação completa que o permita aplicar todos os tipos de procedimentos necessários para a sobrevivência em situação extremas.
Mas isso é muito raro, hoje nas Forças Armadas. Apenas a minha unidade conta com um médico operador. Existem outros médicos operadores nas forças armadas, mas nenhum está atuando atualmente dentro de unidades de operações especiais.
Quais das ocorrências que você atendeu mais te marcaram?
Capitão Lessa: A minha unidade é acionada em casos de acidentes aeronáuticos, catástrofes e ocorrências em locais muito isolados.
Acidentes aeronáuticos são sempre muito impactantes, a natureza deles é muito agressiva e catastrófica e isso impacta profundamente àqueles que atendem esse tipo de ocorrência, gerando consequências como a Síndrome do Operador e Estresse Pós-Traumático. Sem dúvidas uma das ocorrências que mais me marcou foi o acidente do voo 1907 da Gol, em 2006. Eu fui o primeiro homem a chegar no local do acidente, devido à minha especialidade médica como operador, pois se houvessem sobreviventes, eu poderia prestar auxílio.
Esse evento foi muito desgastante psicologicamente, além da frustração em não encontrar sobreviventes. Durante o árduo trabalho de resgate dos corpos, nós nos deparamos com muitas crianças falecidas. Isso mexeu comigo de tal forma que durante muito tempo eu não quis ter filhos, com receio de sofrer uma possível perda.
Pouco tempo depois tivemos a enchente catastrófica em Blumenau, onde atuei diretamente também. Fomos a primeira equipe de resgate das forças armadas a chegar no local. Foi um longo período de labuta, presenciando muito sofrimento por parte da população e mais uma vez com alto número de crianças sem vida, ou crianças como únicas sobreviventes de suas famílias. É muito marcante.
Sem dúvidas o apoio da família, da instituição e dos companheiros da unidade é fundamental para a recuperação psicológica, junto ao apoio profissional especializado, em casos de traumas como esses. Nós somos profissionais treinados e habilitados para atender à essas ocorrências, mas é impossível não ser afetado psicologicamente por elas. Mas seguimos com nosso trabalho, pois a população precisa de auxílio, e nós somos aqueles com a capacidade de prestá-lo.
Como alguém que aspira se tornar um operador especial da Força Aérea pode alcançar esse objetivo?
Capitão Lessa: Primeiramente, o indivíduo que aspira se tornar um operador especial da Força Aérea precisa ser aprovado em um dos dois concursos “porta de entrada”.
Ele pode ser aprovado na Escola de Especialistas de Aeronáutica e em aproximadamente 2 anos se graduar como Sargento, com uma das especialidades aceitas pelo PARA-SAR como: Infantaria, Comunicação, Material Bélico ou Enfermaria. Após isso, ele é designado para alguma unidade da Força Aérea onde vai passar por um período de adaptação e experiência, ela não vai direto para o PARA-SAR.
Com essa etapa concluída, pode se voluntariar para a unidade e sendo aprovado pelo conselho operacional realizado pelos pastores do PARA-SAR, ingressa no curso de PARA-COMANDOS e dá continuidade à sua formação lá dentro. Outra possibilidade seria ser aprovado na Academia da Força Aérea no quadro de Infantaria e cursar 4 anos na academia. Uma vez formado como aspirante, pode ser designado a um batalhão e depois ser voluntário para o curso de PARA-COMANDOS. Se aprovado pelo conselho operacional, com a conclusão do curso com sucesso, vai dar continuidade aos cursos já no
Que trajetória interessante, Capitão Lessa! Algum recado final para os leitores do nosso blog e que acompanham suas missões nesse tempo todo?
Capitão Lessa: Aos leitores do blog da INVICTUS fica o meu abraço e meu agradecimento por prestigiarem nosso trabalho, tanto o meu, quanto o da empresa. No mais, sigam o aminho do bem, do que é certo e sempre em prol do nosso país. Grande abraço a todos!
E aí, guerreiro, curtiu a entrevista com essa lenda? Esperamos que sim. Comente abaixo o que achou e se quiser sugerir pautas com outros heróis, manda ver, pois iremos analisar.
Por fim, deixamos registrado o nosso agradecimento ao PASTOR 173, um verdadeiro patriota que dedicou a sua vida e seu serviço ao bem-estar da nação.
Honra máxima, guerreiro!
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