Desvende as ruas de Pyongyang, a capital da Coreia do Norte, por meio da narrativa do enviado especial #ProntoPraTudo.
Entre 1950 e 1953, aviões rasgavam os ares e blindados faziam o solo da península coreana tremer. Essa atividade militar se encarregou de aquecer a Guerra da Coreia, um país dividido em duas partes “tuteladas” ao norte pela União Soviética e ao sul pelos Estados Unidos. 68 anos depois a INVICTUS esteve numa das capitais desse território um dia devastado por batalhas violentas. É uma das cidades mais limpas, ordeiras e bonitas do mundo. Não, não estamos em Seul. Bem-vindo a Pyongyang, a capital da Coreia do Norte.
De um cenário em ruínas, com aeronaves despencando num rastro de fumaça nos céus e carros de combate explodindo em minas terrestres, o centro administrativo da Coreia do Norte hoje abriga mais de 3 milhões de habitantes. Da janela do 38º andar do Hotel Yanggakdo – dos raros complexos turísticos da cidade e propriedade do Estado -, é possível sentir o murmúrio do silêncio nas ruas por onde trafegam pouquíssimos carros, bicicletas e bondes antigos movidos pelos fios de alta tensão.
É impossível dirigir por cinco minutos pela metrópole sem se deparar com um monumento “faraônico”, uma praça gigante e todos os símbolos que compõem as raízes da história recente do país: militarismo, culto à personalidade de seus líderes e, claro, as características moradias dadas pelo governo em cortiços em arquitetura e cores sempre iguais, variando entre tons aguados de azul, amarelo, verde e vermelho.
O orgulho pelo exército e a guerra
É o final de semana do aniversário do “Eterno Presidente”, Kim Il-sung, o fundador da Coreia do Norte (falecido avô do atual ditador). Na gigantesca praça batizada com seu nome é possível ver marcações de milhares de pontos brancos enfileirados. São elas que orientam os soldados que participam das famosas paradas militares características do local, onde os norte-coreanos exibem desde seu arsenal de ogivas a mosaicos e marchas super sincronizadas. Por azar, a marcha não aconteceu.
Em algum lugar da capital também está o imponente Museu da Vitória na Guerra de Libertação da Pátria. O espaço expõe, entre aviões abatidos e fotos de prisioneiros de guerra em rendição – e até mesmo mortos, o navio espião estadunidense detonado por tiros de canhão. Dentro dos inúmeros salões, os norte-coreanos ilustram sua versão da guerra. Paredões com pinturas extravagantes e maquetes de tamanho real explicam os motivos que levaram ao conflito e as atrocidades cometidas pelos Estados Unidos em algumas das mais sangrentas batalhas.
A devoção aos líderes
Não é novidade que o atual líder “marechal”, Kim Jong-un, detém o maior status da nação. Mas, quando o assunto é seu pai, o falecido “Querido Líder, Kim Jong-il, e seu avô (já retratado acima), a devoção dá aos norte-coreanos uma característica de “nação seita”, tamanho o respeito à linhagem da família Kim. Apesar de estarmos falando de um Estado ateu, o fascínio das pessoas pelos líderes pode ser comparado ao respeito “divino” de outras religiões, tornando-os, sem sombra de dúvidas, semideuses mortais.
Exemplo disso é o Palácio do Sol, o mausoléu que abriga os corpos conservados de Kim Il-sung e Kim Jong-il. O “vaticano da Coreia” é uma construção megalomaníaca dura e cinza. Dentro de seus incontáveis salões, além dos dois corpos que repousam às reverências de seus visitantes, museus expõem objetos pessoais, condecorações e informações sobre a vida dos antigos comandantes do País. Tudo isso dentro de um forte esquema de segurança e um entra e sai constante de soldados e oficiais em visita ao ambiente minuciosamente silencioso e respeitoso.
Cotidiano
A verdade é que parece haver “três Coreias”. E não, a outra não é a “Coreia do Leste”, nem do “Oeste”; É a “Coreia do Resto”. A do Sul é amplamente conhecida por seu abraço ao desenvolvimento e bom relacionamento com o mercado internacional. A “Coreia de Pyongyang”, que arrebanha uma pequena parcela de felizardos aptos a viver “bem”, porém, sob a rigidez e rituais de extrema devoção ao regime da Família Kim.
Tá, e a Coreia do Resto?
Essa é a Coreia do interior, que enfrenta o clima severo nos campos e a total falta de infraestrutura para o cultivo de alimentos. É a Coreia de pessoas majoritariamente magras e “entediadas”, que passam seus dias carpindo sarjetas, recapando o asfalto, tocando gado de arado e fumando palheiro. É a Coreia sem parâmetros de vida boa que vive da sobra e não sabe o que esperar do amanhã. É a Coreia que, provavelmente, não sabe que sofre.
*Marcos Holtz é escritor, jornalista e registra suas viagens no @mochilacronica.
Fique atento, a Missão INVICTUS continua. No próximo post vamos listar lugares e fotos de um acervo exclusivo produzido na expedição.
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