Leia a uma entrevista que fizemos com Sérgio Netto, profissional dos mais renomados no Brasil em Rastreamento Humano. Confira!
Considerado um dos nomes mais destacados no Brasil quando o assunto é Rastreamento Humano, Sérgio Oliveira Netto é Advogado, com longa experiência na área de Direito Militar, com ênfase sobre Tópicos de Segurança Nacional, Procurador Federal – AGU e professor universitário da Univille.
É autor de oito livros e diversos artigos que tratam do tema de rastreamento, bem como diversos outros assuntos ligados ao Direito. Por toda essa trajetória, convidamos Sérgio Netto para ser nosso entrevistado aqui no blog. Então, não se perca na leitura e aproveite cada momento que este mestre do rastreamento nos ensina.
INVICTUS – O rastreamento no Brasil ainda não é um assunto muito difundido para o grande público. Porém, sabe-se que é uma atividade muito antiga. Para o pessoal que não tem conhecimento, mas é curioso em saber, conte um pouco sobre a história do rastreamento humano.
Sérgio Netto – A origem do rastreamento, conforme relatos históricos, surgiu nos primórdios da humanidade. Naquela época, o rastreamento era utilizado para obtenção de alimentos, por meio da caça. Ainda não se possuía o conhecimento para cultivar alimentos, ou para a criação de animais, que pudessem suprir essas necessidades nutricionais. Estas técnicas alcançaram tanta importância que, também começaram a ser utilizadas em cenários de guerras, com a finalidade de rastrear e localizar adversários.
Para quem pretende se desenvolver nessa área, quais as competências que deve ter?
Para ser um RASTREADOR, é preciso ter vivência “mateira”. Em outras palavras, já ter feito trilhas, gostar de estar em ambientes naturais e se sentir confortável nestes locais. Também é importante desenvolver as habilidades de observação, principalmente o sentido visual. Mas esta observação também passa pelo aprimoramento dos sentidos auditivo e o olfativo.
Quais são os tipos de rastreamento existentes e o que caracteriza cada um deles?
O RASTREAMENTO pode ser dividido em três categorias:
1 – Para busca e salvamento de pessoas perdidas;
2 – Perseguição de foragidos;
3 – Rastreamento de animais para observação ou caça (quando permitido pela lei).
Para cada uma dessas categorias, são necessários conhecimentos e técnicas específicas. Isto porque, em algumas situações, uma técnica que funciona para o rastreamento em certo contexto, pode eventualmente não ser adequada para outros.
Por exemplo, para busca e salvamento, não há impedimentos a que o rastreamento seja realizado durante a noite, sendo livre o uso de lanternas. Já para a perseguição de foragidos o rastreamento a noite pode não ser recomendado, com algumas situações de alto risco. Isto porque, por mais que no rastreamento todos os sentidos tenham que ser empregados, o VISUAL, em regra, é o mais utilizado. E, à noite, a baixa luminosidade dificulta ou impede a visualização de sinais e rastros. O uso de lanternas poderá revelar a posição do rastreador das Forças de Segurança, o que, obviamente, deve ser evitado ao máximo, mantendo a aproximação furtiva, sigilosa.
Para o rastreamento de animais, é necessário que sejam tomadas cautelas quanto a odores. Ficar sempre atento a posição do vento, para que estes odores humanos não sejam levados ao animal. No rastreamento de animais, em regra, o vento é que vai indicar a linha de deslocamento para a aproximação dos animais. É conveniente que se tente eliminar ao máximo esta emissão de odores. Atualmente, são feitas peças de vestuário com tecnologias avançadas, que reduzem esta emissão dos odores corporais, muitas vezes denominadas de “Scent Blocker” (bloqueador de odores).
O uso do cão pode ser associado a qualquer uma destas três variantes do rastreamento, porém, com técnicas específicas para cada uma destas finalidades.
No que se refere ao emprego do cão, a referência correta a se fazer é uso do BINÔMIO CONDUTOR – CÃO, pois o uso do cão depende de grande integração entre o condutor do cão e o próprio animal. Simplificando, são basicamente duas as técnicas utilizadas para o rastreamento com o emprego de cães:
1 – Técnica de Venteio, na qual o cão é solto da guia, e faz a varredura da área de interesse buscando detectar odores e partículas de alguma pessoa;
2 – Técnica de Odor Específico, pela qual é apresentado um “artigo de odor”, como uma peça de roupa da pessoa específica que se pretende localizar, indo preso a guia no “rastro” desta pessoa apenas.
O cão também pode ser empregado para rastrear animais. Existem diversas técnicas que podem ser usadas para esta modalidade., como os “cães de aponte” (para indicar a presença de pássaros) e os “cães de acuação” para rastrear javalis.
Em relação ao javali, quais dicas ou técnicas devem ser adotadas?
No Brasil, no momento, o javali é a única espécie da fauna, em relação a qual se tem autorização federal, para que seja realizado seu abate. Tecnicamente não se trata de caça, e sim de “controle” da população, uma espécie de manejo ambiental desta espécie exótica invasora e nociva.
O rastreamento de javalis no país não é tarefa fácil. Um dos obstáculos para que se faça apropriadamente o rastreamento, para ser encontrado e realizado seu abate, é de que as autorizações expedidas pelo IBAMA para esta finalidade, ficam vinculadas a uma propriedade. E, por mais que esta propriedade rural eventualmente seja grande, são facilmente percorridas pelos javalis. São animais fortes, ágeis e inteligentes, e, portanto, eles transitam facilmente por estas propriedades. Nem sempre é possível conseguir estas autorizações de todos os proprietários para fazer este controle, porque envolvem procedimentos burocráticos perante o IBAMA, e que nem todos estão dispostos a se submeter, por motivos diversos.
Diferentemente, por exemplo, daquilo que ocorre em alguns países africanos, nos quais a caça é permitida em algumas regiões, ou fazendas gigantescas destinadas para esta finalidade. É possível pegar o rastro de uma manada de algum animal, e percorrer vários quilômetros andando e seguindo os rastros, até que sejam encontrados, e feito o abate de algum desses animais. Já aqui no Brasil, esta modalidade de rastreamento fica praticamente inviável.
Uma das técnicas de rastreamento que pode ser empregada, é vasculhar a área de interesse na busca de rastros (pegadas) e sinais (solo revirado ou plantação danificada) da passagem do javali. Tendo este ponto como referência, montar “esperas” (ficar abrigado em posição estratégica) e esperar o javali voltar ao local, para então efetuar o abate. Ou seja, a partir da identificação de rastros e sinais, é possível avaliar se os javalis estão frequentando ou não essa área, bem como estimar a quanto tempo aproximadamente passaram por ali. É o que se denomina de avaliar a “idade dos sinais”.
Conte algum caso importante que você tenha participado, alguma curiosidade, emprego de técnicas e o resultado final da ação.
Em uma missão de busca e salvamento, a minha equipe estava procurando rastros de um jovem que entrou sozinho na região de mata para percorrer uma trilha local. Ele entrou calçando uma bota, mas ao se perder, começou a andar por dentro de um riacho. Sua bota acabou arrebentando, e ele voltou para a mata e prosseguiu descalço. Ficou três dias perdido, e quase veio a óbito em razão da hipotermia e falta de alimentação. Felizmente foi encontrado, e retirado do local pelo helicóptero da Polícia.
Isto demonstra a dificuldade que muitas vezes se pode ter no rastreamento, especialmente para se tentar obter informações mais precisas sobre os fatos, e a ir interpretando as evidências que são encontradas. Neste caso, na verdade, só depois que este jovem foi encontrado, é que conseguimos entender exatamente o que aconteceu, e os motivos destes diferentes rastros que foram deixados.
Quais as dicas para quem pratica atividade outdoor ou de sobrevivencialismo, na intenção de não se perderem nas matas, florestas e outros ambientes?
Uma dica conhecida é avisar alguma pessoa para aonde está indo, e quais são os planos. Só isso já pode ajudar muito as equipes de busca e salvamento terrestre que eventualmente forem acionadas para o resgate.
Outra dica importante é sempre levar equipamento de orientação, ou melhor, dois. Por exemplo, um equipamento de GPS e uma bússola magnética, ou um telefone celular com aplicativo equivalente ao GPS para registrar o percurso.
Mas, dependendo do tipo de equipamento, e das condições meteorológicas, ou cobertura vegetal densa, ou mesmo se estiver muito próximo de encostas montanhosas, esses equipamentos podem perder o sinal e ficarem impossibilitados de serem utilizados.
Também é importante prestar atenção a pontos que se destacam durante a trilha, como formações rochosas, rios, clareiras dentre outros que podem servir como referências no retorno.
Preventivamente, é fundamental sempre levar lanterna, alimentação, água, casaco e capa de chuva para que, em uma situação de emergência, tenha condições de ficar parado e minimamente abrigado.
No Brasil, você é um dos maiores expoentes quando o assunto é rastreamento, seja na ação em campo como na literatura. Deixe para os nossos leitores como eles podem adquirir seus livros e acompanhar você nas redes sociais:
Atualmente no Brasil existem vários profissionais RASTREADORES, muitos deles integrantes das Forças de Segurança Pública e Forças Armadas, que também vem contribuindo com o aperfeiçoamento destas técnicas.
Também estamos disponíveis no Facebook, na Página Rastreamento Humano.
Interessados nos livros enviar e-mail para: humanorastreamento@gmail.com
A INVICTUS agradece ao Sérgio Netto pela conversa e pelo aprendizado!
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