O uso de barba em operadores táticos está ligado a diversos fatores e, até mesmo, com a eficácia em combate.

Khasab, cidade do interior do Omã. 17h45 em horário local. O Navy Seal John Luck, de 34 anos, está sentado no interior de um café, na espera de Mustafá, o seu informante. Trajando um Thawb impecável e um Jihab vermelho, John passa desapercebido no ambiente, se camuflando entre tantas outras pessoas árabes. De nada adiantaria portar roupas típicas árabes e ter treinado fonética islâmica durante 4 anos se ele estivesse sem barba. Ele provavelmente chamaria a atenção e não teria, sequer, o respeito do seu informante.

A cena relatada acima se repetiu, inúmeras vezes, nos últimos anos. A flexibilidade para o uso de barba, primeiramente nas forças especiais americanas e, tempo depois, em diversas outras frentes militares mundo afora, tem flexibilizado o uso de barba em seus operadores e combatentes. Os motivos? Vamos explicar ao decorrer desta matéria. Por isso, guerreiro, pegue o seu pente, balm e acompanhe nossa matéria.

O símbolo da masculinidade através da história

Desde os primórdios dos tempos, a barba sempre foi relacionada como sinônimo de masculinidade, poder, honra e elegância.

A história retrata diversos povos e guerreiros como barbudos. Desde o exército espartano, liderado por Leônidas de Esparta, passando por povos bárbaros e vikings, assim como figuras icônicas como Átila, o huno, Vlad e até mesmo Zeus, o deus dos deuses na mitologia grega.

Por volta do ano 330 A.C, o Imperador Alexandre, o Grande, proibiu os seus soldados de terem barba. Ele acreditava que ela poderia atrapalhar na hora da batalha. Pouco tempo depois, o seu império ruiu.

Já na civilização romana, ela era parte importante do ritual de passagem dos rapazes. Eles eram proibidos de raspar ou cortar um fio de cabelo ou barba até alcançarem a puberdade, pois ela era associada ao fato de “se tornar um homem adulto”.

Durante a Idade Média, a igreja cristã desencorajou clérigos católicos a utilizarem, para não ficarem parecidos aos membros da igreja ortodoxa ou até mesmo com muçulmanos.

Os guerreiros Vikings usavam longas barbas.

Por falar na religião islâmica, no Alcorão está registrado que, para sentirem-se mais próximos dos ensinamentos do profeta Rasulullah (Maomé), é necessário usar barba. Quem não usa barba, não tem ligação com Maomé. E é a partir deste ponto, que a relação entre barba e operações especiais começa a ganhar força e relevância no mundo.

A barba e as forças armadas: o histórico proibitivo

Você já viu algum soldado ou policial militar brasileiro com barba? A sua resposta, sem sombra de dúvidas, será não. No máximo, um bigode, retíssimo, que denota as patentes mais altas das forças armadas, seja no exército, na marinha e na aeronáutica ou, até mesmo, nos Batalhões das Polícias Militares.

Para isso acontecer, existem duas razões bem simples: uniformização e outra, um pouco mais polêmica, relacionada com a higiene e os cuidados.
Quanto à uniformização, o fundamento associado é que a barba de todos os militares deveria ser igual. Ou seja, todos deveriam ter o mesmo comprimento e o mesmo volume ou, até mesmo, a mesma tonalidade de cor. E sabemos que não é bem assim, certo? Cada organismo lida com a barba de uma maneira. Não existe gente careca? Também existe gente que não consegue ter um fiapo de barba.

E a outra questão é em relação à higiene. Militares, em treinamento ou no campo de batalha, ficam pelos faciais expostos a sujeira. Com a cara lisa ou, como alguns dizem por aí, com o “rosto de bumbum de neném”, fica mais rápida e tranquila a higiene. E sobre isso, precisamos ser sinceros: barbas precisam de limpeza e cuidados para mostrarem seu melhor estado.

Contudo, de uns tempos pra cá, isso tem começado a mudar em alguns lugares, por diversos motivos. Você sabe quais são?

A guerra mudou para o Oriente (mudando costumes também)

Como já mencionamos aqui, a relação da barba e islã é incentivada pela religião. E, como a maior parte dos conflitos bélicos na segunda metade do século XX aconteceram no Oriente Médio, exércitos e forças especiais do Ocidente precisaram se adaptar e adaptar os seus costumes, técnicas de combate e táticas de infiltração.

Se usar barba é cultural, como se inserir num universo novo com a cara lisa? Situações como as vividas pelo John Luck foram comuns em diversos países do Oriente Médio. Foi necessário se adaptar, traçar novas estratégias de combate e obtenção de informações. Nesse caldeirão de novas informações, a barba teve um papel importante por 3 motivos principais: camuflagem, aceitação e respeito.

Para começar a viver dentro da sociedade oriental, membros infiltrados de forças especiais e de inteligência foram “obrigados” a utilizar barba, com o afã de não chamar a atenção. Se adaptar aos costumes do islamismo foi importante também para ter aceitação de aliados locais.

Por último, com o novo visual, o inimigo passou a temer mais cada operador especial barbudo. Afinal de contas, eles também estavam próximos de Maomé e prontos para defender a liberdade aonde quer que fosse.

A relação da barba em combate X efetividade e a exaltação da masculinidade

A ciência também confabula em favor dos operadores táticos barbudos e barbados. O Pentágono realizou um estudo com 100 soldados de forças especiais americanas, sendo 50 barbados e 50 com o rosto liso. Todos estavam em combate direto durante Afeganistão. A pesquisa foi baseada na eficácia em combate e trouxe resultados inesperados.

Dos 50 soldados com barbas, nenhum foi ferido ou morto. Eles tinham uma precisão de tiro significativamente maior do que os soldados sem barbas. Seja pela aparência mais masculina ou pelo poder exercido pela vaidade masculina, a barba pode acabar por salvar a vida de um operador especial.

Outro ponto interessante, além da questão da efetividade, é a exaltação da masculinidade que a barba produz nos homens. Em 2018, o prestigioso Journal of Evolutionary Biology publicou uma pesquisa científica, onde demonstra que homens com barba são mais atraentes para mulheres. O estudo contou com mais de 8 mil mulheres, que realizaram avaliações de homens de barba feita; cinco dias depois de se barbearem; dez dias depois e, finalmente, um mês após a primeira imagem ter sido retratada.

Os homens com barba de tamanho moderado foram os que receberam as melhores classificações de atratividade, seguidos pelos indivíduos com barba acentuada e, por último com pouco volume.

A pesquisa concluiu que os traços típicos masculinos, tais como uma linha de maxilar pronunciada, símbolos de saúde, não são o ideal de beleza. Enquanto isso, os pelos faciais, quando bonitos e bem cuidados, são associados a indicadores como idade e dominância social.

A fraternidade dos Operadores Táticos Barbudos

O Tactical Beard Owners Club é isso mesmo: um clube mundial para Operadores Táticos que utilizam barba. O projeto iniciou em 2011 como um pequeno projeto entre amigos e, em pouco tempo, abocanhou o mundo, ganhando relevância no mundo tático. Atualmente, o TBOC conta com mais de 1700 pessoas espalhados no mundo. Oriundo de diversas vertentes militares, seus membros formam uma verdadeira fraternidade global compartilhando, além do seu gosto por barbas, treinamentos, filosofia de vida e armas.

Isso fomenta o relacionamento dos irmãos de barba. Num primeiro momento de maneira virtual, mas sempre marcando encontro em vários locais do mundo. Para se associar, você precisa atender uma série de pré-requisitos como, por exemplo, atuar como operador tático militar ou numa força de segurança e possuir barba de respeito. De nada adianta o estilo “barba por fazer”: você não será aceito.

Qual seu estilo? No TBOC são aceitos apenas alguns tipos de barba. Fonte: www.tacticalbeardownersclub.com

Conclusões sobre o assunto

Ao longo da história, a barba quase sempre foi associada com masculinidade e virilidade, trazendo um conceito vigoroso e enérgico aos homens, muitas vezes guerreiros.

Com o avanço da humanidade, a barba acompanhou o processo, sendo muitas vezes ligada a batalhas e povos que cultuavam a mesma para se diferenciar de mulheres ou, até mesmo, outros homens.

Com o passar do tempo, a barba começou a ser proibida nas forças militares, seja por padronização de soldados ou para manter a higiene e o asseio no campo de batalha ou durante treinamentos. É evidente que os padrões estéticos estão sempre mudando e, assim como hoje é permitido tatuagem, a barba poderá compor o estilo militar, assim como em diversos pelotões e agentes de forças especiais.

É questão de tempo.

E para fechar, uma curiosidade: o general brasileiro barbudo

Fonte: Reuters

O General Manoel Theophilo Gaspar de Oliveira é membro da única família cujo oficiais têm autorização para usar barba. A família possui uma linhagem histórica de generais descendentes do I e II Império, ainda no século XIX.

Pelo histórico da família, o membro mais velho da família tem a prerrogativa de usar barba, autorizado pelo Exército Brasileiro. Os filhos homens, nascidos na família Gaspar de Oliveira, tem o direito a estudar na conceituada AMAN (Academia Militar das Agulhas Negras) sem precisar fazer concurso público, em virtude de sua linhagem Imperial.

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